Sobre Guerra e Mudança de Perspectiva
Um título chamativo, cujo texto nada tem a ver com acontecimentos atuais, mas uma historinha entediante sobre desafios descobertos no processo de escrita.
Eu já disse que tem sido um pouco difícil trabalhar com um prazo bem estabelecido. Parece que a mente não quer colaborar, independente dos hábitos que eu tenha criado. Mesmo agora, escrevendo esse texto, sinto que nada é suficientemente bom. Bloqueio de escritor, dizem. Eu digo que é uma mistura de procrastinação, em vista dos desafios com que me deparei e a vida me engolindo.
Com frequência sinto que os compromissos, as roupas para lavar, dobrar e guardar, entre outras tarefas cotidianas vão se acumulando de uma maneira quase incontrolável e quando me dou conta algumas atividades que deveria ter feito foram abandonadas há um certo tempo enquanto tentava conter o caos que reinava na minha casa (e na minha mente). Então eu paro, respiro e escrevo um planejamento. É o ponto alto do ciclo, onde, de certa forma, eu renovo o prazer por fazer a atividade mais corriqueira, como limpar os banheiros.
Com isso, venho pensando se não deveria reestruturar minha rotina de escrita também. Porém, é uma armadilha. O problema não é o cronograma, o problema sou eu, e explico: três não é demais.
Apesar da primeira impressão que se possa ter quando digo que me comprometi a escrever três histórias diferentes com datas de entrega, tentei quebrar cada trabalho da maneira mais viável possível. Espero que as descrições possam ajudar outros colegas escritores a pensar como levar da melhor forma seus trabalhos e encontrar as falhas em cada projeto. Mas atenção: somente saberemos o que funciona ou não na prática, na nossa realidade.
Projeto #1: Conto das botas.
O primeiro projeto é uma história cuja perspectiva foi sugerida pelo meu esposo numa noite qualquer: uma história contada a partir dos pés, especificamente de suas botas de trabalho. Eu logo pensei: “Puxa, seria uma brilhante ideia presenteá-lo no seu aniversário com um conto a partir dessa sugestão”. Isso me deu um prazo de 2 meses e meio, que agora se tornou 1 mês.
A meta: 200 palavras por dia. Uma história de no máximo 14 mil palavras.
No começo as ideias fluíram, fácil, leve, seria um romance com uma reviravolta. Mas estava leve demais, precisava de algo para cativar meu esposo que não fosse uma história de amor “água com açúcar”. Por que não colocar uma guerra? Mostrar o valor dessas botas de trabalho no campo de batalha.
Ótimo, agora eu tinha dois problemas para resolver: a perspectiva e o tema. É mais fácil ir ali dobrar minhas roupas, reorganizar meu armário pela milésima vez...
Entretanto, meu comprometimento com essa história não esfriou a criatividade. Eu ainda tenho ideias, ainda consigo visualizar as cenas que quero escrever como um filme passando na minha mente, só que é pesado escrevê-las, encaixar no que eu já tinha escrito, mudar um ponto ou outro das cenas com o tema inicial.
Quando vi, estava com uma semana de atraso. Mas, no final das contas tiro uma lição: não é só sobre uma quantidade de palavras, quero escrever uma história cativante, com começo, meio e fim e que faça sentido. Ainda há tempo.
Projeto #2: história aleatória
O segundo projeto é um conto que planejava escrever e entregar em maio desse ano. Foi um desafio coletivo com um grupo de amigos, consistia em escrever uma história a partir de um livro gerador de temas aleatórios. Não lembro nome do livro.
O meu desafio foi escrever uma história sobre: “Após um longo tempo de exposição a radiação, um colunista de fofocas, cria uma família de robôs”.
Como o primeiro prazo já venceu, coloquei como meta terminá-lo até o final do ano. Meta: 200 palavras por dia. 4 meses eu tinha, agora restam 2 e meio. Esse foi um pouco mais difícil de manter a constância na escrita (melhor não conto quantas palavras em atraso), porém diferente do outro eu tenho mais detalhado o rumo que quero para a história.
Muito da escrita é também planejamento e revisão. É um trabalho mais chato do que romantizam, ainda mais quando essa não é sua principal fonte de renda. Mas existem autores que superaram isso, uma que está na minha lista para ler veio através desse vídeo: I tried Octavia E. Butler's 2AM writing routine
Eu ainda não contei sobre o terceiro projeto porque é um pouco mais longo que os demais, e talvez seja uma surpresa. Mas digamos que ele, apesar de não ter ainda uma meta de palavras diárias, não está completamente parado. E não se preocupem porque colocarei cada história aqui assim que concluir.
Espero não ter entediado ninguém com esses detalhes dos projetos. A ideia é inspirar outros escritores a continuar, apesar dos obstáculos. Ou continuar a escrever pelos obstáculos? Há quem diga que um personagem só é cativante quando os supera, que uma história só “se escreve” quando um personagem determina por quais caminhos vai seguir e quais problemas vai resolver.
Mesmo adquirindo um hábito de escrita o conceito do “personagem que guia a história” ainda me parece um pouco esotérico. Quem sabe eu não mude de opinião mais pra frente. Até a próxima terça.