Ressentimento
Reflexões que precisam ser acompanhadas de uma limpa em tudo o que estamos carregando desnecessariamente.
Recentemente, o
publicou um texto sobre o porquê dele não escrever em livros. O resumo é que a escrita serve para esquecer o que pensamos naquele momento, e escrever nos livros seria uma “falta de comprometimento” com a vida intelectual.O meu primeiro pensamento quanto a essa fala foi de que talvez seria problemático um influenciador dizer isso a seus seguidores, que além de ter o peso do dever de uma vida intelectual – imposto pela maioria dos influenciadores da mesma área, ainda que sutil ou involuntariamente –, também devem escrever em seus livros, tomar notas e guardá-las aos montes.
Eu poderia bradar que comigo a escrita é diferente de esquecimento (às vezes), que consigo até mesmo lembrar onde estava sentada, o que estava tomando, escutando enquanto releio algumas partes do meu diário. Mas isso sou eu, e nem sempre.
Devo concordar que a escrita é ótima para tirar o que estivermos carregando em nossas mentes, então não precisamos mais preocupar-nos com esses pensamentos. Isso é esquecer, isso não é estudar, aprender de fato. Nisso o Pedro e Sócrates têm toda a razão. Me impedirá de escrever nos meus livros, sublinhar, copiar passagens interessantes? De forma alguma.
Mas sou consciente de que não vou me lembrar que frase maravilhosa anotei, a menos que regresse e decore meu caderno de passagens incríveis já copiadas. Talvez o tanto que reclamo de minha memória ser ruim se deve ao fato de não treiná-la corretamente.
Coincidência ou não, outros influenciadores amigos do Pedro também colocaram nas suas histórias sobre como anotam em livros, indiferente do processo de aprendizagem, que com certeza é mais profundo do que podem abordar em 15 segundos no instagram.
Afinal, se essa fala do Pedro já não me afeta, por que dar tanta importância a esse assunto e escrever um texto a respeito? Porque levou tempo, ainda que pouco, para eu dizer a mim mesma que não era importante me ressentir com isso. Porque eu tive o impulso de reagir dizendo que os seguidores não iriam gostar de ser chamados assim. Ou seja, inicialmente eu me senti afetada sim, admito.
Meu questionamento mais importante depois de tudo isso foi por que me senti assim? Por que todos nos sentimos assim, atingidos? É só entrar nos comentários de qualquer vídeo ou post e com toda certeza encontraremos alguém afetado pelo conteúdo. Não necessariamente é alguém reclamando, pode vir na forma de um “conselho” sobre como aquele conteúdo pode ser melhor. E esquecem que, ainda que seja público, um perfil do instagram é um lugar particular, onde cada pessoa coloca suas opiniões, interesses, ideias, sua vida.
Sempre tem um para comentar “se não quer opiniões, não devia divulgar publicamente”, mas por que você se importa tanto?
Alguém num dos clubes de leitura que participo disse que a geração Z (da qual eu faço parte, apesar de não saber exatamente o impacto dessa informação na minha vida) é a “geração de cristal”. O que posso dizer? É verdade.
Quantos reels eu já não assisti sobre como uma pessoa se cansa agora por gravar 2 vídeos e algumas histórias no dia, enquanto a avó acordava antes do sol nascer, cozinhava, limpava a casa, passava as roupas (o que é isso?!), cuidava dos filhos – mínimo 4, e ainda assistia sua novela no final da noite e fazia tricô.
Onde foi parar toda essa energia, toda essa força da humanidade? Podemos culpar a tecnologia, as redes sociais, os influenciadores. Podemos continuar nos sentido atacados pelo universo que conspira contra nossos planos. Porém a culpa é toda nossa. Ah, mas isso é muito problemático de se dizer para as pessoas, jogar a culpa no próprio seguidor?!
Então a culpa é minha, por deixar meus dias se passarem sem fazer o que é mais importante para mim, esperando que alguém me diga o que fazer e ainda reclamar se não é suave ou fácil o suficiente. A culpa é minha por seguir gente estranha na internet e acreditar que é possível ter uma vida superficialmente igual.
A culpa é minha por guardar ressentimento de falas que não são diretamente para mim. Não digo que as pessoas não devem ter cuidado com o que falam, que a culpa é toda de quem escuta, pelo contrário, numa relação próxima e pessoal é muito necessário um trato respeitoso e, por que não?, amoroso. O que não é o caso das redes sociais, é uma opinião jogada ao vento, quem tomou essa dor para si tomou, quem não tomou não tomou.
A culpa é minha por idealizar um objetivo (como escrever um livro e não levar tão a sério como disse que faria), ou uma vida, e não aproveitar a realidade presente. A culpa é minha por guardar ressentimento de falas alheias e passadas sobre a escrita, sobre livros, ou sobre qualquer outra coisa que me paralisaram por tanto tempo. Se é tão importante para mim, por que não seguir? A menos que alguém importante diga que o faço muito mal, depois de muito tempo tentando aperfeiçoar-me (até lá ainda temos muito tempo).
Então coragem meu amigo leitor, não se ressinta, não guarde pesos que te paralisem no que você mais ama fazer, assim como eu.