O Valor do Tempo
Metas para 2024: dedicar muito à escrita e silenciar a voz julgadora interior.
Tem uma frase pendurada num quadro em frente ao meu computador que diz
“Quem conhece o valor do tempo sempre tem o quanto precisa”
— do livro A Vida Intelectual, de Sertillanges.
Longe de mim dizer o que você, leitor, deve fazer com as suas 24 horas — e menos afirmar que temos todos o mesmo tempo. Ainda assim, acredito que uma virada de ano cabe muito bem à reflexão sobre o tempo sem ser clichê.
Depois de tornar-me mãe essa frase de Sertillanges teve um pouco mais de sentido para mim. Quando você já não tem o tempo de antes, seja para dormir, comer, fazer algo que você gosta ou quer, ou mesmo precisa fazer, tomar um banho que seja; você começa a valorizar mais o seu tempo.
Só que muitas vezes eu discordo dessa mesma frase, porque todos os dias sinto que preciso de mais tempo, ou mais energia. Empolgação e medo me invadem na hora de colocar meus planejamentos no papel. Medo de não conseguir, de desistir na segunda semana, de esquecer e deixar as atividades do dia a dia tomarem conta de todo o meu tempo, medo de perder tempo com as redes sociais, ou vendo um filme ruim.
A verdade é que tempo estamos todos perdendo. Quando recém ingressei no Threads vi uma pessoa questionando se os demais leitores terminavam um livro ruim por obrigação ou deixavam de lado sem peso na consciência.
Eu sou do segundo tipo, mas também já tive a felicidade de descobrir que talvez só não fosse o momento certo daquele livro, que precisava de um certo amadurecimento ou conhecimento de outras obras antes que o livro x fizesse sentido para mim.
Da mesma forma, tenho tentado deixar de lamentar todos esses anos que tive o desejo de escrever e não o fiz, ainda que pudesse estar muito melhor agora, porque eu amadureci e tive contato com conhecimentos, realidades muito diferentes daquilo que eu me projetava há 11 anos atrás, que foi quando comecei minhas páginas matinais, ou journaling.
Sendo apenas o segundo dia do meu projeto de escrita, o meu ânimo ainda não esfriou. Tampouco comecei a escrever do início ao fim com uma inspiração arrebatadora, que é como muitas vezes imaginei que seria quando me decidisse por começar uma obra.
Descobrir o valor do meu tempo, ver como são preciosos esses momentos de paz e silêncio em frente ao computador, me traz uma confiança serena de que talvez, apenas talvez, seja uma meta que eu possa cumprir. Ontem mesmo terminei o conto do amigo secreto de natal, que com a permissão do grupo talvez publique aqui semana que vem.
Agora mesmo percebo que escrevo aqui há 4 meses. 4 meses. Para mim é uma grande coisa. Nesse mesmo período, terminei o saldo do ano com duas histórias, o conto das botas e o desafio do NaNoWriMo, ainda que não concluídas, cada uma com mais de 10 mil palavras. Ainda li 13 livros em 2023, sendo 10 deles a partir do segundo semestre. Isso é que é valorizar o meu tempo. Ainda que não deixe de surgir aquela voz interior julgadora que diz que poderia ter feito muito mais, que desperdiço meu tempo com futilidades.
Ah a voz interior. Talvez seja um dos motivos de não conseguir prosseguir em algumas metas. Às vezes estou escrevendo uma ideia, meu ponto de vista, e escuto uma vozinha em tom zombeteiro no fundo da minha mente que diz “ah mas...” seguido de qualquer mensagem acusatória ou que questiona minhas ideias. Então sinto aquele impulso de me justificar para essa voz interior.
Não é ninguém me questionando. Não tenho — até agora — nenhum hater. Por que eu deveria me justificar? Que eu mude de opinião e decida escrever a respeito é outra coisa. Ninguém me acusa de hipócrita ou volúvel além de mim mesma.
Ignoro as raízes psicológicas do caso, ou mesmo se é uma forma de mimetismo de pessoas que têm haters reais e compartilham suas experiências nas redes. Quando penso a respeito, grande parte das pessoas que conheci até agora possuem suas vozinhas interiores questionadoras e acusadoras. E veja só, minha cara vozinha interior, não estou falando que está cientificamente comprovado que todas as pessoas têm uma voz inquisidora interior. É só algo que eu notei.
Sinto que escrevi muito carregando esses questionamentos internos e isso me deixou muito tempo tolhida, reprimida, de alguma maneira. E desejo ignorar a voz cada vez que ela aparecer.
Ela aparece com mais frequência desde que comecei a escrever, além da vontade de sair fazendo qualquer coisa como limpar a casa quando preciso cumprir metas de escrita fixas. Engraçado, não?
Ao que tudo indica o projeto de escrever todos os dias desse ano de 2024 promete mais obstáculos do que eu imaginei. Mas estarei preparada.
Desejo a todos vocês um feliz ano novo! Que nossas metas se realizem.
Até a próxima.