Eu não costumo seguir listas de leituras. A ideia de montar a minha lista veio como uma solução para ordenar as leituras que adio, colocar prioridades, tirar a poeira de títulos que esperam anos para serem lidos. Também espero que me ajude a melhorar como escritora.
Ao mesmo tempo, uma lista com todas as obras que desejo ler não deixa de trazer um sentimento de angústia, uma certa inquietação pelo fato de que não conseguirei ler tudo o que gostaria antes de morrer.
É uma verdade óbvia, mas às vezes não podemos impedir que certos sentimentos apareçam. Ainda mais porque a cada dia surgem novas obras, novos autores que despertam um interesse e são acrescentados à lista. Uma lista viva, em movimento, correndo mais rápido do que eu consigo alcançar, nem por isso deixarei de correr atrás dela.
Estive pensando no livro O Ano da leitura mágica1, algumas coisas que passaram com a autora que remetem à minha situação atual - ela tinha nesse tempo quatro filhos -, eu poderia lamentar que não tenho tempo para escrever todos os dias, que duas crianças pequenas demandam demais, que o cansaço me impede de ler ou mesmo de escrever, ou fazer qualquer coisa!
No segundo semestre deste ano eu li praticamente dois livros por mês! E escrevi duas histórias com mais de 10 mil palavras cada uma. Então, é possível. Para mim, para você que está lendo. Motivar os demais é lucro, porque não acredito que esse era o propósito de Nina ao ler um livro por dia durante um ano. Mas sim contar uma história, quem sabe contar uma história para si mesma de que a própria realidade pode ser contada sob diferentes perspectivas.
O que é melhor? Usar meu tempo livre para navegar indefinidamente nas redes sociais ou escrever uma quantidade mínima que seja todos os dias, ou ler um pouco, 5, 10 minutos cada dia, e devagar e sempre ir riscando alguns títulos da imensa lista mutante?
Talvez a pressa seja mesmo inimiga da perfeição. Muitos de nós temos essa verdade inerente, tanto que a febre do momento é o pão de fermentação natural, um pão que demora mais de 24 horas para ser elaborado entre trabalho, descanso e fermentação. Ou uma panela slow cooking, você não se preocupa em queimar e obtêm todo o sabor de uma refeição largamente preparada.
Quem não têm memória de um almoço caseiro delicioso que a mãe ou a avó preparava desde às 10 horas para estar servido às 12h?
Talvez os maiores crimes culinários sejam o caldo em pó e o tempero completo. Um verdadeiro caldo demora horas para concentrar todo o sabor, um chef mesmo me disse uma vez que a cebola e o alho deveriam ser caramelizados lentamente por mais de meia hora para um resultado perfeito em qualquer prato.
Você pode achar um exagero, e tudo bem, são resultados e sabores diferentes. Não quero convencer ninguém aqui a começar a consumir apenas café gourmet e pão artesanal, ou menos a fazer o próprio pão. Você pode contar a si mesmo a história que quiser, sem esquecer que a forma com que cada um conta seu passado pode definir como você enxerga seu futuro.
O futuro é um mistério. Pouco tempo após decidir escrever por 366 dias e começar a elaborar minha lista de leituras, uma virose ingressou na minha casa. Quatro dias de caos e vômitos me fizeram pensar que talvez o mínimo seja um sonho impossível. Mas enxergar só o lado ruim é apenas um jeito de contar a história.
Então, em 2024 vou contar-lhes uma história. Ou várias histórias dentro de uma. Porque há dias que não temos vontade de seguir com todos esses projetos que elaboramos, então nos deparamos com nosso dramas e tragédias. Há dias que alcançaremos mais metas do que o esperado, e nos sentiremos como um D’Artagnan2 que tem toda a sorte a seu favor, além de muita habilidade. E haverão dias simples, sem nenhum extremo e apenas o suficiente.